Um tapa na cara da igualdade

A Escola Politécnica comemora 120 anos, e nesse período de existência muitas engenheiras e engenheiros, líderes, influenciaram ativamente a história deste país. A Poli é reconhecida por sua tradição e modernidade, e sempre esteve na vanguarda do ensino e da pesquisa. Entretanto, infelizmente, ainda há muito a ser feito em relação ao machismo e a outras formas de discriminação no ambiente universitário.

Semana passada, na Festa Junina da Poli, havia uma barraca intitulada “barraca do tapa” (uma alusão à tradicional barraca do beijo) organizada pelo Centro Acadêmico da Engenharia Mecânica (CAM). O objetivo da barraca era as meninas pagarem para bater no rosto dos meninos. Para isso, os participantes da barraca ofenderam diversas garotas que sequer estavam participando ou interessadas em participar da brincadeira com xingamentos machistas e racistas, tais como “vadia”, “puta”, “preta fedida”, e “gorda”.

Essa agressão verbal não é inédita nem rara. Ano passado os movimentos feministas da Poli e da USP denunciaram um evento de chamada para esta mesma barraca na rede social Facebook que começava assim: "Você já foi taxada de vagabunda pelos seus colegas de classe? (…) A sociedade te menospreza pelo simples fato de ser mulher? (…) Se sim, saiba que nós, do CAM, incentivamos e apoiamos todos esses tipos de práticas que deixam vocês, mulheres, putas da vida." Não houve consequência institucional, de fato, levada a cabo pela Poli em relação a isso (punição, exigência de retratação ou mesmo cancelamento da atividade). Dessa maneira, as ofensas se repetiram este ano.

Além disso, anualmente ocorre aqui na Escola (em frente ao Biênio) uma competição entre os Centros Acadêmicos chamada Integrapoli que também possui um caráter extremamente machista. Nela há uma série de tarefas de cunho sexual e de desvalorização da mulher, como apresentação de um calendário erótico das alunas politécnicas, simulação da banheira do Gugu com a presença de prostitutas contratadas, lavagem de carro por calouras seminuas, apenas para citar algumas. Achamos isso ofensivo e este ano a Congregação da Poli tomou ciência oficialmente sobre isso. O colegiado, na ocasião, concordou com o nosso posicionamento porém nada foi feito – a moção de repúdio aprovada não foi divulgada.

Tais acontecimentos oprimem as garotas estudantes de engenharia e as desestimulam a participarem ativamente da faculdade – desde levantar a mão para pergutar durante uma aula até se pronunciar publicamente em algum evento ou apresentação. Mas não queremos formar líderes?

Exigimos que a Direção e a Congregação da Escola Politécnica se pronunciem publicamente sobre o assunto, repudiando atitudes machistas e discriminatórias, que os responsáveis pela promoção direta da discrimição no ambiente politécnico sejam punidos (com advertências por exemplo) e, mais do que ações pontuais, exigimos uma política institucional permanente de educação para o respeito à diversidade construída cojuntamente pela comunidade politécnica.

No livro “Fazendo história” que está sendo lançado hoje, há quantas mulheres entre os 75 professores da instituição? Qual a porcentagem de engenheiras citadas n'Os 120 anos da Escola Politécnica? Quantas queremos que haja nos próximos anos e o que faremos de verdade para isso acontecer?

PoliGen – Grupo de Estudos de Gênero da Poli

Ago/2013

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